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Representação de segmentos sociais

Como lembra Immacolata Vassalo Lopes, professora titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP, no artigo intitulado “Telenovela como recurso narrativo”, antes o foco das tramas era apresentar romances aos telespectadores, sem, contudo, trazer reflexões aprofundadas sobre as questões sociais do período, de forma mais realista. Esse modelo sentimental foi começando a ser alterado, de acordo com a pesquisadora, no fim do anos 1960, com as novelas Sheik de Agadir (TV Globo, 1966) e, principalmente, Beto Rockfeller (1968), transmitida pela TV Tupi. Nessa última, era retratada a vida na cidade. “O uso de gravações externas introduziu a linguagem coloquial, o humor inteligente, uma certa ambiguidade dos personagens e, principalmente, um repertório de referências compartilhado pelos brasileiros”, como relata Vassalo Lopes no artigo citado.

 

O professor Diego Gouveia lembra que, no início, as telenovelas eram voltadas para as pessoas que possuíam o aparelho televisivo em casa, que havia acabado de chegar ao país, um ano antes do primeiro capítulo da novela pioneira exibida na TV Tupi. “Ela era inicialmente dirigida para um público que tinha condições financeiras de adquirir um aparelho de TV, objeto caro para os custos da época”, afirma o pesquisador.

 

Pela maioria das famílias que possuíam televisão na residência constituírem a classe média alta da sociedade da época, é de se imaginar que a maior parte dos que apareciam nas telas fossem pessoas desse segmento social, afinal, o novela precisa representar quem assiste, não é mesmo? Diego, no entanto, faz uma ressalva.

 

“As classes menos favorecidas economicamente sempre foram representadas, muitas vezes de maneira caricata, mas não eram prioritariamente protagonistas das novelas”, explica. “No entanto, é notório que, com o aumento do poder aquisitivo das classes menos favorecidas economicamente, as novelas passaram por um processo de ampliação das representações sociais dessas pessoas, investindo, inclusive, na protagonização de novelas por personagens dessas classes sociais”, afirma o acadêmico.

 

Estima-se que, apenas seis anos após a chegada da televisão ao Brasil, em 1956, já poderiam ser contabilizados 1,5 milhão de aparelhos em todo o território nacional. De acordo com o Kantar Ibope Media, instituto de pesquisa que realiza o levantamento de dados estatísticos sobre televisão e outras mídias, na América Latina, em 2000, 87% dos domicílios brasileiros tinham uma televisão em casa. Esse número saltou em 2013, quando 97% dos lares contavam com o aparelho, dado que vem permanecendo até 2017.

 

Também em um levantamento divulgado pela Kantar Media, do total da população, em 2016, 71% dos telespectadores que assistem a TV aberta são das classes C, D e E.

 

Por esse fator, observa-se uma mudança até os dias atuais, como identifica a professora Veneza Ronsini. “Quem vê telenovela? A elite vê menos. A classe média e a classe popular é o perfil de audiência das nossas novelas”, define a pesquisadora. Mas como é que essa classe vem aparecendo nas telenovelas?

 

Ronsini faz uma análise da conjuntura. “A novela não mostra as diferentes classes. Você tem alguns exemplos, como Velho Chico [TV Globo, 2016], de Benedito Ruy Barbosa. Alguns autores têm essa visão. Mas, no geral, não há conflito. Claro que é uma visão da sociedade muito idealizada”, explica.

Sheik de Agadir (1966). Foto: Memória Globo
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